27 de novembro de 2012

Muito além do som e da diversão: Entrevista Misantropia



Por Tïago Anônimo

Fotos: Ricardo Silva
Dando sequência na nossa conversa com as bandas que vão tocar no Palmeira Underground no próximo dia 15 de dezembro, trocamos uma idéia com o Sandney, guitarrista e vocalista da Misantropia.
Os caras tem mais de 20 anos de cena e vão tocar em Palmeira dos Índios pela primeira vez. Mandando um HC old school dos melhores, a banda é a atração certa pra quem quer ouvir um som politizado e se acabar na roda de pogo. Saca só!


Coletivo Escarcéu (CE): Primeiro, fala um pouco sobre como a música e o punk/rock entraram na sua vida e um pouco da história da Misantropia.


Sandney Farias (SF): Eu lembro que na minha infância brincava de cantar enquanto tomava banho, mas com certeza na época nem passava pela minha cabeça fazer parte de uma banda. O rock entrou na minha vida quando eu era adolescente. O pontapé inicial foi dado pelas bandas de rock nacional da década de 80 (Titãs, Plebe Rude, Legião Urbana, Blitz, Ultraje a Rigor, Camisa de Vênus, etc). Observava e valorizava muito a contestação e o teor das letras. Felizmente encontrei amigos com gosto em comum. No bairro onde morava na época e no qual vivi durante 27 anos – o Trapiche da Barra, havia uma galera que fez parte de algumas bandas de rock/metal/punk eles foram responsáveis por me apresentar o som de uma banda que mexeu muito comigo: Cólera. Depois de escutar os primeiros acordes de Tente Mudar o Amanhã eu nunca mais fui o mesmo. Foi daí que nasceu a vontade de montar uma banda e tentar mudar o mundo. A Misantropia iniciou suas atividades no dia 8 de junho de 1991 e de lá para cá muitas coisas aconteceram. Passamos por algumas mudanças de formação, que felizmente foram poucas. Amadurecemos, evoluímos, quebramos a cara algumas vezes e fizemos muitos amigos. Aprendemos que uma banda nunca vai mudar o mundo, no entanto não desistimos de tentar fazer a nossa auto-revolução diária.


(CE): Vocês tem mais de 20 anos de banda, já tocaram em vários lugares e tal, qual a maior diferença dos shows do começo pros de agora?

(SF): A principal diferença que sentimos é com relação a estrutura. Apesar de ainda enfrentarmos algumas situações adversas com o som de alguns eventos, nesse quesito as coisas melhoram consideravelmente. Ainda há dificuldade com relação aos espaços, mas sempre que a galera quer e se mobiliza consegue movimentar as coisas. Hoje, mesmo nos períodos mais críticos, a frequência de shows é bem maior. Tocamos pouco esse ano, mas ocorreram muitos eventos por aqui. Também há uma movimentação intensa no interior, que é bem maior hoje do que há alguns anos atrás.


(CE): Já ouvi de algumas pessoas que tocar no interior é uma experiência foda comparado a tocar na capital. É isso mesmo ou não tem nada a ver?

(SF): Como a frequência de shows/eventos no interior é menor do que na capital isso termina influenciando um pouco na forma como as pessoas participam do show. Na maioria das vezes isso resulta numa energia maior e mais vibração por parte da galera. No nosso caso, sempre que viajamos para tocar, ficamos muito instigados. Não que isso não role quando tocamos em Maceió, mas desbravar o interior, outras cidades e outros estados é sempre uma experiência muito gratificante. 
Já soubemos que a galera de Palmeira agita muito nos eventos e será muito bom tocar por aí, rever alguns amigos, ter contato com o que rola por aí e estabelecer novos laços de amizade.


(CE): É a primeira vez que vocês vão tocar em Palmeira. O que vocês conhecem da cidade e qual a expectativa pro show?

(SF): Essa é a primeira vez que vamos tocar em Palmeira. Eu não conheço muito a cidade, acho que fui por aí a trabalho umas duas ou três vezes, no entanto conhecemos algumas pessoas daí (Erivaldo, a galera da Asfixia e o Ricardo Silva). A nossa expectativa é de que o evento será bem movimentado com a galera interagindo, trocando informações e indo muito além da apresentação das bandas.


(CE): Quem vai nos shows da Misantropia nota que vocês dão muita importância pro lance de fazer o próprio som e deixar covers mais de lado. Na tua opinião qual o tamanho da importância disso pra construir uma cena musical local?

(SF): Realmente sempre nos preocupamos muito em passar nossas mensagens e produzirmos nossas músicas. A Misantropia é um canal que usamos para nos expressar, colocar para fora os nossos sentimentos e ideias. Já fizemos alguns covers, mas foram poucos e na maioria das vezes de banda que não são muito conhecidas. Acredito que tocar as músicas de uma banda que você gosta é uma forma de se aprimorar, de ter mais domínio do instrumento que a pessoa toca, até de satisfação pessoal mesmo. Agora realmente é complicado pensar em uma cena musical restrita a bandas covers. Fora a diversão que isso pode propiciar para alguns grupos ou pessoas eu não vejo muitos aspectos produtivos ou de construção de algo mais sólido. Aprendi com o faça você mesmo que somos capazes de fazer o que queremos, ou seja, podemos ir além do ato de tocar música de outras bandas e escrever as nossas letras, fazer nossas músicas e ter uma banda. 

(CE): Como andam as gravações? Vocês estão pensando em lançar algo em breve?

(SF): Entre outubro e novembro estamos gravando material novo no Concha Acústica – com o nosso grande amigo Dácio. Ainda não sabemos como isso será lançado. São nove sons novos e acreditamos que até o final do ano todo processo será concluído. Não temos muita pressa, assim como também não temos condições financeiras de investir em um formato físico. Assim que tudo estiver finalizado é que iremos ver como esse material será liberado/divulgado. Já temos as músicas e uma capa, agora vamos ver no que vai dar.


(CE): Pra finalizar, queria que você convidasse a galera pra ir no show e o espaço tá aberto pra você falar o que quiser!

(SF): É sempre bom quando abrem o espaço para tocarmos e levar a nossa mensagem. É bom ver a as coisas ocorrendo em vários lugares e saber que há pessoas interessadas em produzir algo, acabar com o marasmo e romper as barreiras. Acredito que a galera de Palmeira e das cidades vizinhas estará presente no evento para fortalecer essa movimentação e para trocar ideias. Não percam o evento, compareçam e participem ativamente. Lembre-se que há algo muito maior por trás disso tudo que vai além do som e da diversão. Por mais difícil e complicado que pareça é possível trilhar um caminho diferente, construir algo novo, ir além do apontar os dedos e apenas reclamar. O primeiro passo é tirar a bunda do sofá e começar a se movimentar.
Valeu pelo espaço aberto e até o dia 15.[CE]


Palmeira Underground

Onde? Aquarius

Quando? 15 de dezembro as 19hs

Quanto: 5 conto!

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