23 de fevereiro de 2012

Grito Rock Alagoas '12: Palmeira dos Índios


Guitarras no Açude!
por  Erivaldo Mattüs

A primeira parceria do ano entre o Coletivo Escarcéu e o Coletivo Popfuzz levou pela primeira vez à Palmeira dos Índios um estranho evento conhecido pelo burlesco nome de "Grito Rock". E é sobre esse dia (e noite) de roquemroll selvagem em terras indianas que tratamos a seguir!

Depois de acordar apavorado com o rádio topado numa missa desconhecida, lá pelas dez horas matutinas, corri pra rodoviária e lá estavam alguns meliantes reunidos, a missão de buscar a Ataque Cardíaco estava completa. Admito que portávamos uma grande preocupação sobre como o público iria lidar com essa vertente suja do rock chamada grindcore... Fim de tarde, eu já estava pra lá da Jamaica quando as bandas começaram a passar o som, infelizmente Jah não permitiu que a Morra Tentando chegasse a tempo e encontrei com os maloqueiros em minha porta intimando diversão. Bandas na cidade, camisetas pretas em circulação, e assim começava uma linda noite de rock em Palmeira dos Índios...Um “1,2,3,4” e lá estava o Asfixia no palco! Depois de uma glamorosa apresentação na capital (com direito a cabos quebrados e blackout), os moços não perderam o pique e apresentaram hits já conhecidos dos fans como “Não se Deixe Abater”, “Fim da Adolescência” e “Gritar”. Em menos de cinco minutos, o vácuo na frente do palco foi preenchido por espirituosos jovens rockeiros que pogavam numa agressividade fora do normal. Nos últimos tempos, tenho ouvido muitas piadinhas sobre o roque palmeirense, insinuações que batizavam a cidade de “Palmeira dos Indies” e o Asfixia estava lá para provar que os boatos estavam errados. Do início ao fim da apresentação, a banda instigou o público intensamente. 

Asfixia Foto: Rafaela Meres

 Ainda desorientado pelo punk rock dos índios, começaram a soar uns acordes meio desafinados no palco, era a vez do Imprensa Anônima mostrar como os anos oitenta continuam atuais. O Imprensa é uma banda até pouco conhecida pelo público local. Psicóticos e surreais, os caras mostram que sabem muito bem o que querem: transportar o público a uma atmosfera obscura, digna dos botequins oitentistas da Inglaterra, uma sonoridade densa e estranha que nos faz pensar na dor e agonia da existência. Músicas que ressuscitavam o roque de protesto ou lançaram os fans num ambiente sombrio, digno dos primeiros álbuns do The Jesus and Mary Chains e Joy Division. Um embalo mais calmo, mas não menos enlouquecedor. Prestes a gravar sua nova demo, a banda apresentou letras politizadas que mostravam o quanto nossa sociedade anda fria e decadente... 

Imprensa Anônima Foto: Rafaela Meres

Encerrado o turbilhão de guitarras estranhas, subiu ao palco a primeira atração estrangeira, a Ataque Cardíaco. Logo, na segunda música, o público iniciou um verdadeiro massacre: cabeças, braços e sapatos voavam livremente num redemoinho de dor e gritos vomitados por Michel, patrão da demoníaca Dor de Barriga Records, selo independente e na ativa há anos lançando tudo o que Delmiro Gouveia e Alagoas tem de Barulhento. Clássicos como “Terror Tecnológico” e “Respeite ou Morra” criaram um clima quase que de tumulto. Não havia possibilidade de uma roda pogante, o som era tenso. Só restava a cada um erguer os braços em posição de luta e se fundir a um emaranhado de socos, alegria e barulho!

Ataque Cardíaco Foto: Nando Magalhães

Após alguns ossos quebrados e um soco no estomago que quase me fez vomitar, o clima ficou mais light, subiram ao palco os rockeiros roots do Foxy Trio. Não conhecia o som da banda e realmente fiquei maravilhado com a performance. Além da intensidade das músicas próprias, os caras detonaram covers de Jimi Hendrix e Pink Floyd. Somado a algumas cigarrilhas de maracujá com amigos, o som da Foxy Trio literalmente fez o público delirar. Moshs, Gritos frenéticos e muita euforia vinda do público. Algo realmente assustador, ao ponto do amigo Caíque (Coletivo Popfuzz) comentar “Porra, o público aqui é bem rockeiro!”. Concordo plenamente! Palmeira dos Índios mostrou que existe um público rocker na cidade e que são tão maníacos quanto a besta fera no dia do apocalipse. Congratulations aos rapazes da Foxy Trio, realmente eles criaram cenas que nunca poderíamos imaginar na cidade... 

Foxy Trio Foto: Rafaela Meres

Para encerrar a noite no estilo, voltamos para uma pegada punk alimentada por outros estilos não menos divertidos, era a hora da Morra Tentando subir ao palco. Marcelo realmente me impressionou: nunca vi um gorducho dar tantos pulos insanos num palco, mostrando que a cerveja no bucho jamais impediria seu processo de levitação. Ainda possuía uma linda homenagem quase tatuada no couro: escrito em seu braço com lápis hidrocor, o nome do rei das calcinhas “Wando”. Dando uma canja de um hit do finado, a plateia já caiu em delírio e todos começaram a acompanhar com suavidade, porém, logo emendaram um hardcore nervoso e o inferno recomeçou. Após lançar seu novo single e acrescentar a formação um novo baixista, os jovens rockeiros da capital mostraram que o punk rock está vivo e é raivoso. Um lindo encerramento de evento numa cidade que clamava por rock. 

Morra Tentando Foto: Nando Magalhães

Realmente, a primeira edição do “Grito do Rock” em Palmeira não deixou nada a desejar. Muito pelo contrário, presenciei um público que não conhecia até então e que nos deixou orgulhosos por provar que o bom e velho roquenrol se mantém vivo e intenso na cidade. São eventos assim que me fazem refletir bastante sobre como livrar nossa cidade do tédio a que estamos submetidos. Para encerrar, basta dizer que desse show ficou somente a instiga de fazermos o próximo, o Coletivo Escarcéu está aí pra provar que somos capazes de mudar a realidade dos fins de semana patéticos que vivemos em terras Xucuru-Kariris. Pra quê Rock in Rio, se nós temos o Rock no Açude? É isso aí, Palmeira Rock City está só começando!

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